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A noite não foi longa, que as crianças são pequenas. A verdade é que sempre me pareceu disparatada a ideia de ter que esperar até à meia-noite para abrir os presentes. Ou bem que é na véspera, ou bem que é no dia. E a opção mais certa ainda me parece ser o Dia de Reis.
Não foi longa, soube-me a pouco. Mas também soube-me a muito. Porque vi os mais pequenos a repetir as brincadeiras que aquela casa já há muito tempo não via, os mesmos gestos, os mesmos risos, a mesma cozinha, a mesma lareira.
Não foi longa mas bastou para me lembrar o quanto gosto dos meus irmãos e primos, o quanto me preocupam as suas doenças, os seus silêncios, ás vezes as suas ilusões que só uma irmã mais velha consegue ver. O quanto queria pegar neles e conseguir-lhes arrancar as dores, conquistar os seus medos e saber dizer-lhes que sei que tudo vai correr bem.
Não foi longa, mas ainda provei as rabanadas, aquelas que eu conseguia comer e comer, depois do jantar, antes de deitar, ao acordar sem nunca me fazerem mal.
E depois da véspera com metade da família, o dia com a outra metade. Mais presentes, mais frutos secos, mais risos e mais dores escondidas, vontades de pegar irmãos ao colo e encontrá-los, fazer-lhes ver que se aqui estou para alguma coisa será, que me ajudem a ser melhor, que por favor me digam por onde andam os seus sonhos, os seus medos, as suas almas.
Depois de dois dias de família, um dia de chuva em casa e... hoje, hoje tive que sair, apanhar ar, chuva se acontecesse, vento forte se fosse preciso. E resulta sempre, parece-me. A natureza tem esse poder, o de renovar.

1 comentário:

Anónimo disse...

só faltou o teatro de natal :)