dos dias

2 lençois a partir de 1 fronha

wip

O M. volta aos poucos à sua rotina, este será o último ano nesta escola. Uma escola familiar, com turmas tão pequenas e caras tão conhecidas... O que virá depois desta etapa? Tem andado tão bem-disposto, contente com os seus 9 anos que lhe permitem pequenas grandes liberdades como ir a casa do amigo sozinho ou passar umas noites fora de casa - pergunto-me como enfrentaremos a rotina escolar este ano, terei eu tempo de o acompanhar nos projectos e tpc's, de brincar com ele, de lhe ler mais um capítulo à hora de deitar? Uma coisa eu sei: mesmo que o tempo venha a ser repartido por dois, o amor já o sinto a dobrar.

Tentando aproveitar os dias ao máximo, tenho estado à máquina de costura enquanto a luz natural o permite (fiz uns lençois para a alcofa da bebé a partir de uma fronha grande e estou quase a acabar mais uns babetes) e quando a sala escurece, sento-me à luz do candeeiro e pego no crochet. Enquanto as mãos trabalham, os pensamentos voam. Penso em tanta coisa.
Penso em como gostaria de viver a minha vida, no que quero manter e no que quero modificar. Penso na quantidade de  pessoas que me escrevem sobre quererem mudar a sua vida, principalmente no seu receio de querer mudar, mais do que o receio de mudar em si. Curiosamente, muitas mulheres sentem-se culpadas por se sentirem descontentes e desconfiam dos seus próprios sentimentos, como se alguém as chamasse de caprichosas por quererem ser mais felizes. E é verdade, quem ousa querer ser mais feliz é muitas vezes chamado de caprichoso. Nesta sociedade em que vivemos, a felicidade está à venda todos os dias, a preço acessível, em embalagem sedutora. Quem começa a sentir-se enganado com essa felicidade imediata, experimenta um desconforto estranho, que desconhecia até à data, porque até à data tudo parecia estar certo e agora começa a parecer errado. A vida, como estava organizada, começa a não fazer sentido, há peças que não encaixam mais. Mas aos olhos dos outros - e os olhos dos outros exercem muito poder nas nossas vidas - o querer mudar de caminho quando tudo está tão encaminhado, organizado, manipulado não passa de um capricho de quem já tem tudo.
O que lhes vou respondendo (em mente, enquanto trabalho e agora por aqui) é que mesmo que seja verdade que tenhamos muito em comparação com outros que nada têm, falta-nos também muito e é nossa obrigação ouvirmo-nos e procurarmos desde já mudar o que podemos mudar e trazer para casa aquilo que nos faz falta. Não é errado sentir que algo nos faz falta. É errado pensar que não devemos sentir que algo nos faz falta, seja qual for a razão. É raro o sentimento que está errado. Se daqui a uns tempos ele ainda lá está, essa é outra história. Mas se ele for verdadeiro, ele não se vai embora.
Talvez para surpresa de muitos, eu não aconselho ninguém a largar o emprego, a ir viver para o campo, a dedicar-se ao artesanato. Há pessoas que me escrevem com a ideia de que isto de fazer trabalhos manuais e vender pela internet é vida fácil. Primeiro custou-me a perceber o porquê desta ideia falsa mas depois percebi: os blogs podem dar uma imagem distorcida da realidade, mesmo que inconscientemente. As imagens bonitas enganam. Ninguém tem a vida perfeita, mesmo que seja melhor que a nossa em alguns aspectos. Eu não aconselho ninguém a mudar de vida de um dia para o outro (será possível?) - aconselho, sim, a mudar o dia. Só assim a mudança será sólida e duradoura. A vida são os dias. Façamos deles algo maior.


Reciclar uma fronha:

Mesmo sem máquina de costura, é fácil desmanchar uma fronha e transformá-la em algo diferente.
Não cortando o tecido, mas sim descosendo os pontos para que se  aproveite o máximo da peça  podemos fazer lençóis pequenos para bebé, fraldas de pano, individuais para a mesa ou guardanapos de pano. Depois de descosida a fronha, corta-se o tecido no tamanho desejado (no caso dos lençóis basta cortar em dois) e fazem-se umas bainhas, à máquina ou à mão.
Se for o primeiro projecto de costura é normal que não fique perfeito, mas será um prazer utilizar peças feitas por nós no dia-a-dia da família. Acreditem.


7 comentários:

ilovekutchi shop disse...

minha querida Virginia! 'Leio-me' nas tuas palavras... obrigada por fazeres os 'nossos pensamentos' visiveis e legiveis. Por certo: ainda nao tinha tido oportunidade de felicitar-te nesta nova etapa da tua/vossa vida! Um grande abraço e uma enorme BEM-VINDA ao teu novo habitante!! <3

cá-cá (Portugal) disse...

Que lindo post!! Realista! Por vezes 'invejamos' outras vidas sem termos conhecimento... enfim! Nem tudo é perfeito mas temos que aproveitar as pequenas coisas que nos dão prazer! Bjs e bons trabalhos!
PS: Tb eu tenho um rapaz de 9 anos e agora um bébé... é... interessante digamos! ;-)

Virgínia disse...

@ Mara, que bom ver-te por aqui! Tenho pensado em ti, sabes? Um beijinho grande e muito obrigada pela visita!

@ Cá-cá, engraçada coincidência! E sim, é isso mesmo, temos que ter prazer na vida, todos os dias.

Naná disse...

Virgínia, não podia deixar de felicitá-la pela postura extremamente realista com que responde a quem quer "mudar" de vida. Também eu adoraria mudar a minha, mas tenho consciência de que ainda é muito cedo e que um trabalho das 9h-17h permite-me uma largueza financeira que de outra forma não poderia ter. Por isso, o gosto pela costura terá que ser um hobby e um dia mais tarde, mudarei sim!

Maria Joao disse...

Que bem que me fizeram estas palavras. Obrigada!
Felicidades!

zeliaevora disse...

:)
O ninho:)

rosinha_dos_limoes disse...

Obrigada pelas tuas reflexões ... gosto principalmente da tua observação sobre o que é a realidade de quem apenas vemos atravez desta máquina infernal ;)

Mais uma achega acerca do estigma de querer mais do que já temos quando até temos tanto ... nos momentos de crise em que vivemos parece heresia querer mais, querer outras coisas que não são bens materiais mas que têm muito mais valor (aparentemente apenas para nós e meia duzia, se tanto, de pessoas do nosso dia-a-dia), parece heresia admitir que nem me importava de ganhar menos se isso fosse garantia que teria mais tempo para mim e para os meus.

Mas´a mudança tem de começar por aí ... pequenos passos, começar por ser inflexivall na hora de saida do emprego por exemplo :p