o post que surge sempre pela altura dos saldos

Sempre que vou a um centro comercial venho para casa com um sentimento estranho. Volto cansada e desanimada. É daquelas coisas que eu sei que devia evitar - e evito - e que vão totalmente contra aquilo que sou. 
Mesmo para uma pessoa como eu, que não se deslumbra com esse mundo comercial, é muito fácil deixar-se envolver com tanta coisa para ver. A oferta é enorme. São muitas lojas, umas a seguir às outras - é casa sim, casa sim, casa sim, casa sim. Cansa. Quando damos por isso já se passaram umas horas e ainda estamos a andar. As lojas são na maioria das vezes armazéns de mercadoria feita à pressa com materiais de má qualidade feitas longe por pessoas cuja história nunca vamos conhecer. Quando pego numa peça penso sempre em quem terá feito aquilo, em que condições e a que preço. Terá filhos em casa, na escola, será homem ou mulher, novo ou velho? Acabará ele ou ela o seu dia de trabalho satisfeito ou resignado com a vida que tem? A história que a peça me conta nunca é muito bonita. Terei eu que comprar algo que me diz que não é feliz? Serei eu feliz ao usar aquilo no meu corpo? 
Outra coisa que me chateia muito é o espaço interior das lojas que anda a encolher. Ou os corredores estão cada vez mais apertados ou eu estou mais larga. O espaço que há para eu passar diz-me que eu não sou bem-vinda, pelo menos por muito tempo. E o meu bebé muito menos - o carrinho não passa! (Por outro lado, constato que muitas lojas de rua cuja secção de criança fica no primeiro andar não tem rampa, escada rolante ou elevador para lá chegar com carrinho de bebé!).

Ao contrário das visitas semanais aos meus blogs preferidos que me deixam inspirada e com vontade de fazer mais e melhor, de crescer como ser humano e de mudar o mundo, estas visitas esporádicas a estes locais de consumo puro e duro deixam-me vazia por dentro, com a nítida sensação de que não é isto que quero para a minha vida.

Um dia destes terei o prazer de vestir apenas roupa feita para mim.

8 comentários:

sara aires disse...

Concordo com tudo o que dizes Virgínia. E acho que o que muitas vezes assusta, é que se alguns (poucos) percebem que aquilo lhes esvazia a alma e há outras coisas mais enriquecedoras, muitos ficam apenas às voltas que nem mariposas estonteadas em roda dessas lojas... sem dinheiro para comprar toda aquela ilusão, vão-se sentido cada vez mais frustrados e deprimidos.

Ana V. disse...

100% de acordo.

MJL disse...

Eu vivo numa cidade perto de lisboa, tenho lojas perto, um centro comercial, acesso fácil a tudo isso, e sou sincera cada vez menos entro lá. Passam semanas sem entrar numa loja, apenas a livraria ou o cinema com os meninos raramente... e quando lá vou vejo pessoas com crianças a passear. Fico incrédula, a passear, as crianças naquelas actividades em que os pais os deixam, a pular, a saltar... enfim.
Ainda bem que sou assim...

3 Gatos Miaus disse...

Como te percebo... ainda hj fomos ver os saldos e vimos umas 2 ou 3 lojas se tanto num banal CC... é tudo igual, qualidade terrível, tudo sem história... Vieram apenas umas camisolas básicas para as transformar!!! Mas quem as fez... qt recebeu... tem filhos... tem comida...
Quero tirar um curso de costura a sério urgentemente... saber tirar medidas e construir roupa... p o meu filho já faço mt coisa p mim só mesmo em tricot!!!
Se souberes de algum apita!
Beijocas

Libelinha disse...

A última vez que entrei num Centro Comercial foi para comprar uma máquina de fazer pão. Evito a todo o custo entrar num... E se antes não entendia o porquê, acabo de ter a resposta no teu texto. É a sensação de vazio, a futilidade do produto e a má qualidade, principalmente das roupas.
Entre o tricot e o crochet vou satisfazendo algumas necessidades. A máquina de costura já mora cá em casa, só falta aventurar-me nela e aprender como fazer roupa. O pão já é feito em casa, os legumes vêm da horta da mamã que tem produzido bem que dá para toda a gente... Mas a ideia é termos uma nossa e felizmente terreno não nos falta. Ele que agora "decidiu" ser pescador e com a Ria de Aveiro tão perto, temos o peixe. Carne?... Já nem me lembro de ir ao talho, evito-a cozinhar.

O ideal era conseguirmos ser auto-subsistentes e aos poucos vamos conseguindo isso =)

Virgínia disse...

Sara, é mesmo uma ilusão. Só quem anda acordado é que vê.

MJL, pois, passear num centro comercial é algo que não dá para compreender. Por mais feios que alguns locais sejam, há sempre um canto onde se pode jogar à bola. E depois culpa-se a criança que pede tudo o que vê.

3 Gatos Miaus, eu também quero tirar um curso assim. Por enquanto acho impossível porque a Maria precisa de muita atenção, mas é um plano que tenho e vou cumpri-lo. Se souberes de alguma coisa primeiro que eu... apita tu! :)
Libelinha, que inveja boa me fizeste agora... uma horta e um pescador :) Eu procuro um campo não muito longe de Lx onde possa cultivar, se souberes de alguma coisa, por favor diz-me!

Fico muito contente com os vossos comentários, mesmo que por vezes não tenha tempo para responder. Bem hajam!

Libelinha disse...

Virgínia, na zona de Lx conheço muito pouco já que sou da zona de Aveiro. Mas a internet tem destas coisas boas de encurtar distancias e se entretanto souber de um cantinho de cultivo eu aviso :D

Virgínia disse...

Nunca se sabe :)Um beijinho e obrigada!