pão por deus

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De manhã foram pedir pão por Deus, como já vem sendo tradição. Juntou-se um grupo ainda maior que do ano passado.  A mascote era a mesma, a senhorita Alecrim. 
Onde moramos não vale a pena ir tocar à porta de ninguém. Ainda para mais num sábado de manhã. Uma ousadia, ser criança e querer brincar às tradições. Vamos às aldeias aqui ao lado, longe da vida gira da gente gira com cães giros e bicicletas giras. Onde nos abrem a porta com sorrisos, preparados ou não com mãos cheias de guloseimas, contentes pela visita, felizes pela vida que se espalha pela rua naquela manhã. Já há vários grupos de crianças, uns de cada lado da estrada, é melhor correr para ver quem lá chega primeiro. São muitos, pequenos, grandes, estão todos na rua e os sacos enchem-se e as crianças são crianças e a aldeia é aldeia.

Curiosidade nº 1:  aquela primeira porta que se abriu perguntar-lhes porque não vinham mascarados e porque não faziam partidas. 

Curiosidade nº 2: a maior parte das crianças que está a pedir pão por Deus não sabe o que é o pão por Deus.

Curiosidade nº 3: crianças que não sabem o que são pinhões, que vou felicíssima apanhando ao longo do caminho, deliciando-me mais tarde em casa com aquele sabor a pinheiro e a infância.


À tarde fomos visitar os nossos mortos, que para mim estão tão vivos quanto os vivos e fazem parte dos meus dias. Vivesse eu noutro tempo e espaço e os meus mortos viviam ali ao meu lado, no meu jardim, a ver os meus filhos crescer. Uma sociedade que não sabe lidar com a morte nunca saberá do que a vida se trata. 

6 comentários:

Rita disse...

Amei, sobretudo, e como não podia deixar de ser, o último parágrafo.

trapos a voar disse...

Por aqui, apesar de ser uma vila importante, sede de concelho e tudo, ainda não se perdeu a tradição do "pão por Deus". E este ano, apesar de já não ser feriado, tivemos a sorte de ser sábado. Por isso lá foram entusiasmados, e voltaram com os sacos cheios, não só de doces, mas de nozes, amendoins e passas. A tradição ainda vai sendo o que era!

Marta disse...

Aqui também é impensável ir tocar ao portão dos vizinhos que nunca vimos mais gordos (entramos e saímos de carro das nossas casas e outro dia quando sai a pé uns miúdos disseram-me olá e só depois percebi que eram os vizinhos da casa da frente!) Uma pena!
Mas a escola da Areia lteve a excelente ideia de levar os meninos a pedir Pão por Deus ao Centro de Dia. A minha filha cantou, recebeu palmas e doces e ficou a conhecer melhor uma celebração que faz parte da sua cultura. Ah! As minhas filhas adoram pinhões!

Unknown disse...

Por cá o mini ser ainda não foi de porta em porta (para o ano irá!) mas esteve entusiasmadissimo a ver as crianças agitadas de um lado para o outro e a ajudar-me a por as bolachas, as nozes, amêndoas e pinhões q tínhamos para elas!!!
Quanto aos nossos mortos, não os podemos visitar por estarem "fisicamente" longe... Mas falei-lhe dos que nunca iria abraçar e ouvir a voz e mostrei-lhe muitas fotografias.... Por momentos estiveram muito mais perto de nós.... Quase q conseguia sentir-lhes o cheiro q era só deles!!!
Obrigada por mais um post tão bom e tão honesto!
Beijinhos da costa alentejana, Xana

Sopros do Pensamento disse...

Desconhecia esta tradição.
Gostei particularmente do último parágrafo, porque de facto as pessoas não sabem ainda lidar com a morte.
E se tudo terminasse, como relamente se diz, a nossa vida, todo o esforço que fazemos, teria algum sentido?

http://soprosdopensamento.blogspot.pt/

Rita Lombert disse...

PÃO-por-Deus!
Quero ouvir sempre. Manter as tradições e não agarrar importações.
Parabéns! Adorei.