à mesa

Em frente à mesa está uma janela que dá para o contentor de lixo. Não é assim tão mau, à volta há muitas árvores e no céu passam muitas gaivotas, mais ainda quando há tempestade no mar, e aquele cheiro a maresia entra-nos pela casa adentro... Mas, sim. Da janela vê-se o contentor do lixo.
E é um contentor muito visitado por aqueles que, infelizmente, na aflição da luta pela sobrevivência perdem a vergonha e lá vão espreitar, depois de se assegurarem que ninguém está a olhar. Mas eu vejo.
Muitos já são conhecidos do prédio e contam as suas histórias a quem as quer ouvir. Há um senhor que já é avô, que arruma carros até uma certa hora e depois vai correndo os contentores à procura de coisas para os netos e para os vizinhos, e fá-lo todos os dias.
E eu, do lado de cá, tomo mais um gole de chá e sinto algo de agridoce dentro de mim por não ter que fazer o mesmo para alimentar o meu filho. E aproveito para mostrar ao M. como a vida pode ser diferente, como temos que nos sentir agradecidos por tudo o que temos, e como o que temos já é tanto! Mas por mais que ele veja e ouça, fico sempre com a sensação que não faz ideia do que estou a falar. Porque até a nós nos é difícil pôr na pele dos outros!
E hoje, à mesa, foi assim:
M: - Eu é que não queria comida do lixo!
Eu e o pai: - Por isso é que o pai e a mãe têm que trabalhar tanto para fazerem dinheiro...
M: - Porque a comida de casa é cara, é?
Eu e o pai: - A comida é cara...
M: - Não faz mal, ia-mos comer ao restaurante! Tomava-mos o pequenos almoço, o almoço, o lanche e o jantar no restaurante!
Num mundo onde existem paredes com botões que dão dinheiro... faz sentido!

1 comentário:

♥ tm disse...

Também sinto a mesma dificuldade em fazer compreender às minhas o valor das coisas, o ter muito ou pouco, a importância de valorizar o que temos....

mas um dia vão perceber...
:)