A caminho de Monsaraz III




Chegámos naquela hora em que o céu se despede por mais uma noite, deixando-nos um verdadeiro presépio dourado envolto em puro silêncio para desvendar. No ar, o cheiro das lareiras acesas convidava a ficar, a procurar quarto antes que outro se adiantasse. E porque também há dias em que tudo corre bem, conseguimos ficar com o quarto por apenas dez minutos de desencontros. Ficámos na Casa da D. Antónia, na Rua Direita, que recomendo vivamente. Pelo quarto simples mas confortável, pelo cheiro a lavado e a engomado da roupa de cama, pela simpatia dos que lá trabalham e pelo pequeno-almoço servido com gosto, o que sabe sempre bem.

É impressionante o espaço que aquelas casas escondem por trás da fachada. Perguntei à senhora que ali trabalha (tenho pena de não me lembrar do seu nome) se ainda consegue ver a beleza que nós vemos na paisagem ou se por ali viver desde sempre já não dá valor ao que tem. E fiquei contente com a resposta: sente-se muito feliz. E que as suas filhas adolescentes por enquanto também não querem sair de lá, mesmo conhecendo as grandes cidades. E eu pergunto-me como é que alguém conseguirá habituar-se a viver noutro lugar depois de ter todo aquele mundo à sua frente.

Enquanto a mãe conversava com a senhora que engomava os lençóis e prendia os botões às batas, o M. fotografava tudo o que via, entusiasmado com os momentos de posse da máquina. Já tenho uma colecção considerável de fotografias suas e um dia gostava de as partilhar. Dá-me muito prazer ver o meu filho descobrir-se perante o mundo... enfim, sou uma mãe babada.
ADIM- Associação de Defesa dos Interesses de Monsaraz

1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente partilha, Virgínia, obrigado.

Um dia, a humanidade talvez possa viver assim, como uma família unida. Um dia, ainda talvez venhamos a ser homens, portanto.

Possam os microcosmos familiares saudáveis, dar o tom ao macrocosmos da desavinda família global.

Pedro