do antigo se faz novo

colares

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Uma vida inteira acumula muita coisa. Ainda para mais quando não se gosta de deitar fora e se vê possibilidades em todos os objectos que por nós passam. Assim é a minha avó, assim é a minha mãe, assim sou eu. E não fosse eu caracol de casa às costas, não me tinha desfeito de muita coisa entre uma mudança e outra.
Há dias em que preciso deitar coisas fora que não estão a uso há anos - preciso dessa limpeza, dessa organização, de fazer espaço para o novo. Outros há em que me arrependo de o ter feito, quando acabo finalmente por encontrar o fim perfeito para aquela peça. Ás vezes é tarde demais, outras ainda vou a tempo. E é uma alegria enorme encontrar uso para algo que tinha caído em desuso. Nessas alturas sinto a criatividade no seu pico mais alto.
Deve ser assim que a mãe do meu pai e a minha mãe se sentem também. São as pessoas mais criativas que conheço. Cada uma à sua maneira. A criatividade é a alegria da inteligência.
Pensando bem não é de há uns anos que recolho coisas. Acho que sempre o fiz. Ainda não sei bem porque o faço e porque me dá tanto prazer fazê-lo.
Estas missangas vêm do tempo em que os meus avós regressaram do Brasil e abriram uma retrosaria na baixa de Lisboa - a Casa Albuquerque. Coincidência feliz porque apesar de esse ser o seu apelido, o nome já lá estava, do anterior dono. Tenho a certeza que pouca gente na minha família conhece a história. Eu, que tento passar tempo de qualidade com a mais velha da família, costurando, aprendendo, ouvindo as histórias da sua vida que lhe vão passando pela memória vindas de lugares já meio esquecidos, vou absorvendo tudo. E mesmo não escrevendo o que ouço porque sou demasiado desorganizada para isso, tenho a certeza que guardo tudo bem guardado - as histórias e os objectos.
Talvez um dia as histórias apareçam em papel.

2 comentários:

zeliaevora disse...

Sim, põe essas histórias em papel v:)

Coisas de fazer - Handmade in Portugal disse...

Como me revejo nestas palavras. Sempre aprendi vendo a minha mãe aproveitar tudo e transformar tudo em novos usos. Principalmente a roupa das crinças. Para mim é desgastante esta época em que vivemos em que o usar e deitar foram é o hábito mais comum.
Quanto às histórias do passado, mas do que sabe-las é importante passa-las adiante aos mais pequenos.