" (...) - Pronto - redarguiu o rei. - Que tal o fato novo? Fica bem?
E virou-se mais uma vez defronte do espelho, principalmente para fingir que dava os últimos retoques no conjunto.
Os camareiros, que deviam segurar o régio manto, levaram as mãos ao chão, como para apanhar a ponta e levantá-la. E seguiram de braços erguidos, pois não queriam dar a entender que não estavam a ver nada.
Assim desfilou o cortejo, com o rei debaixo do pálio, e toda a gente a dizer, nas ruas e nas janelas:
- Que lindo fato novo leva o nosso rei! Que esplêndida cauda, como faz belo efeito!
Ninguém, é claro, desejava confessar que não via esse traje tão gabado, visto que, de outro modo, se provaria falta de inteligência ou incapacidade para desempenhar as funções respectivas. Nenhum dos fatos anteriores do rei obtivera tamanho êxito.
Ouviu-se então uma criança exclamar inocentemente:
- Mamã, o rei vai nu!
Foi altura de todos murmurarem aos ouvidos do vizinho que a criança decerto tinha razão.
- Vai nu... vai nu...
O rei sentiu um arrepio, pois não ignorava que diziam a verdade. Mas, como monarca, achava que devia prosseguir até ao fim e tomou uma atitude ainda mais majestosa. Os camareiros seguiam-no solenemente, erguendo o manto, embora soubessem que não existia peça nenhuma daquele traje tão famoso."
in Contos de Andersen II, Relógio d'Água
(... onde é que eu já vi isto?)
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