por terras de Miguel Torga

São Martinho de Anta São Martinho de Anta São Martinho de Anta São Martinho de Anta Casa de Miguel Torga, São Martinho de Anta São Martinho de Anta Espaço Miguel Torga, São Martinho de Anta Espaço Miguel Torga, São Martinho de Anta

Fomos visitar a avó. E agora que a avó mora tão longe, podemos dizer que vamos à terra, embora não seja a nossa. Eu, que nasci em Lisboa e cresci com o Palácio da Pena a olhar para mim, ainda não sinto um lugar como sendo meu. Pergunto-me se algum dia o encontrarei ou se faz parte de mim não pertencer. Tenho amor à terra que é terra, ao ar que é puro, à água fria da nascente e é isso que chama por mim. E cada vez chama mais alto, há urgência em lá chegar, dois seres destinados, não posso morrer sem o encontrar.
Esta terra, que tão bem acolheu a minha mãe, é terra de gente grande. Há espaço para isso. É só querer crescer. 
Ali nasceu e viveu Miguel Torga e juro que quando subo a Senhora da Azinheira, e nada mais ouço que o silêncio que me enche a alma, quase que o vejo caminhar. Se eu ali morasse enchia-me de ar. Eu sei que aqui também o há, mas é diferente. Aquele ar.

Não podíamos deixar de passar pela casa que a avó pintou, sobre a qual já aqui falei, até porque ela está no meio da praça central, tendo conquistado um merecido estatuto de atracção turística. Logo ao lado passamos pela pequena casa onde Miguel Torga viveu, tão bonita e singela que me diz que é assim leve para não deixar marca no chão. Mais uns passos e chegamos ao Espaço Miguel Torga, centro cultural de autoria de Eduardo Souto Moura, espaço amplo e luminoso, do tamanho da alma do escritor, pronto para a vida cultural do país. Saí dali com uma vontade imensa de agarrar os meus livros de Miguel Torga e de caminhar o chão da nossa Península.



" Sou, na verdade, um geófago insaciável, necessitado diariamente de alguns quilómetros de nutrição. Devoro planícies como se engolisse bolachas de água e sal, e atiro-me às serranias como à broa da infância. É fisiológico, isto. Comer terra é uma prática velha do homem. Antes que ela o mastigue, vai-a mastigando ele. O mal, no meu caso particular, é que exagero. Empanturro-me de horizontes e de montanhas, e quase que me sinto depois uma província suplementar de Portugal. Uma província ainda mais pobre do que as outras, que apenas produz uns magros e tristes versos..."

Diário VIII

9 comentários:

Anónimo disse...

:)

Um sorriso... Deixo aqui apenas um sorriso...!

Sofia

Virgínia Otten disse...

:) um sorriso gera sempre outro sorriso :)

Unknown disse...

Então junto mais um sorriso! :)
Também gosto muito desse grande senhor... E do teu novo logo... Lindo, simples e cheio de ti!
Beijinhos da costa alentejana, Xana

cátia disse...

vida.

Virgínia Otten disse...

um sorriso sincero, Xana e Cátia :)

Andreia disse...

Tão bonito!
(de sorriso sincero também)

Virgínia Otten disse...

Andreia, :)

Susana disse...

Então foram a S. Martinho de Anta!!!
terra bela, sem dúvida...
e a casa ao lado da do Torga, com um lindo jardim de camélias, pertencia ao já falecido Padre Avelino. Alma serena e bondosa a quem o Torga pedia para nunca destruir o jardim nem as camélias...
Foi de certeza uma bela viagem "à terra"...

Virgínia Otten disse...

Sim, Susana! Essa é a terra das camélias! :)